terça-feira, 14 de junho de 2016

O Milagre da Multiplicação das Horas

Desejamos viver muitos anos. Mas para que viver tanto tempo sem uma motivação, um sentido, um objetivo? Longevidade não significa necessariamente felicidade. Longevidade pressupõe número atingido, felicidade tem a ver com sentimento adquirido.

À propósito, será que para sermos felizes precisamos de tempo? Acredito que é uma situação que requer mais sensibilidade do que disponibilidade. Se estivermos sensíveis para alguma causa, inevitavelmente daremos um jeito, buscaremos uma forma de fazer valer esse desejo, no entanto, se estivermos só disponíveis, pode até nos sobrar tempo, mas faltará sentimento, e sem sentimento não haverá emoção e sem emoção nada subsistirá.

O fato é que diante da frenética e extenuante vida do século XXI, muito se fala em sedentarismo físico, mas o ‘sedentarismo emocional’ é bem recorrente e igualmente nocivo ao primeiro. Enquanto que as atividades físicas são indispensáveis à saúde do corpo, para que este não venha ficar atrofiado, a ‘ocupação emocional’, em suas mais variadas formas, é imprescindível ao nosso bem-estar. Sem emoção a alma fica entediada, carente, vazia.

Eu sou uma pessoa que como a grande maioria não tenho tempo, mas não tenho mesmo!  Porém, mantenho minha sensibilidade, e essa sensibilidade é que tem dado sentido ao meu tempo, mais do que isso, sentido à minha existência, a ponto de me fazer presente em diversas ações sociais, como na defesa dos portadores do Autismo, dos portadores da Síndrome de Down; dos portadores de câncer; dos direitos da criança e do adolescente; dos direitos sociais de pessoas carentes; das reivindicações de comunidades, dentre outras.





Qual é a explicação para esse milagre da multiplicação das horas? É que quando encontramos tempo para servir ao próximo, passamos a dar sentido ao nosso tempo e também ao tempo dos outros. É como se o prazer de ajudar tivesse o poder de prolongar as horas. Para quem dá e para quem recebe ajuda.

Por isso precisamos cativar mais a nossa sensibilidade, pois quando o nosso tempo está ajustado com o relógio do coração, cada segundo de nossa viva se torna mais instigante e desafiador.  

Passei um dia para escrever esse artigo, mas esse dia pode se estender por um tempo imensurável à medida que sua mensagem preencha algum espaço na vida de alguém. Isso é mais do que multiplicar as horas, é projetar sonhos e otimizar oportunidades.



segunda-feira, 6 de junho de 2016

Porto Alegre registra um caso por dia de violência sexual contra criança e adolescente

Porto Alegre registra um caso por dia de violência sexual contra criança e adolescente

Reportagem traz números que comprovam a realidade assustadora de crianças sendo vítimas dentro do lar e as falhas na rede que tenta prestar um serviço que minimize o trauma .




Porto Alegre registra um caso por dia de violência sexual contra criança e adolescente Adriana Franciosi/Agencia RBS
Foto: Adriana Franciosi / Agencia RBS
O abuso sexual contra crianças e adolescentes é muito mais comum do que se imagina e o trauma que este tipo de violência provoca pode ser devastador se não for tratado, segundo a avaliação de especialistas. 

A rede de atendimento que envolve polícia, Ministério Público, Conselho Tutelar e serviços de saúde e assistência social precisa estar conectada ao ponto de identificar o autor de um crime que normalmente é velado, interromper a violência, proteger a vítima e proporcionar assistência. 

De acordo com levantamento feito pela Delegacia de Polícia da Criança e do Adolescente (Deca), Porto Alegre registrou 420 casos de violência sexual em 2015. Até 11 de maio deste ano, são 148 ocorrências. Significa que no ano passado, a polícia registrou 1,15 casos por dia e em 2016, os registros continuam semelhantes - 1,12, o que equivale a uma média de um caso por dia. 

Em contrapartida à demanda, existe uma estrutura deficiente, carente de recursos e preparo para lidar com um crime tão delicado. No mundo ideal, todos os profissionais da saúde, da educação, da segurança pública e do judiciário deveriam estar preparados para atender essas vítimas. Toda a sociedade deveria entender que ela não desejou ser abusada. No mundo ideal, a violência sequer ocorreria. 

Na vida real, não é bem assim que funciona. Profissionais ouvidos pelo Diário Gaúcho dizem que a rede de atendimento se esforça para funcionar, mas ainda é falha. Se o número de casos registrados refletisse a realidade, a demanda seria ainda mais assustadora, revelam os especialistas. 

— Sem dúvida existe uma cifra oculta, de pessoas que não denunciam por vergonha, medo ou até desconhecimento — destaca a delegada da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima, Andrea Magno. 
Andréa Magno, delegada do DecaFoto: Adriana Franciosi / Agencia RBS
Levando em consideração que apenas um terço dos casos atendidos pelo Centro de Referência no Atendimento Infanto-Juvenil (Crai) é de Porto Alegre, fica evidente que a demanda é alta não só na Capital, mas em todo o Estado, inclusive em cidades do Interior. 
— A violência cresce a passos largos. Existem várias situações que colocam as crianças em necessidade de acompanhamento. Então, é claro que não estamos funcionando bem, precisaríamos de mais estrutura e talvez um pouco menos de demanda — avalia a coordenador do Crai, Eliane Soares. 
Eliane Soares, coordenadora do CraiFoto: Adriana Franciosi / Agencia RBS

Pouca estrutura para muita demanda
O Crai, que funciona dentro do Hospital Materno Infantil Presidente Vargas, é a principal porta de entrada para crianças e adolescentes vítimas de qualquer tipo de violência sexual. O centro dispõe de uma equipe de psicólogos, assistentes sociais, médicos e peritos especialistas na área. 

O serviço produz laudos físicos e psíquicos, além de providenciar os encaminhamentos para os tratamentos de saúde e acompanhamento social das famílias. 

Referência neste tipo de atendimento há 15 anos, o serviço é o único em todo o Estado. Vítimas do Interior precisam se deslocar até a Capital para fazer a avaliação psicológica. Segundo a coordenadora, boa parte das famílias é trazida pelos Conselhos Tutelares. 

— Não é papel do conselho fazer a condução para outra cidade — avalia o coordenador-geral do Conselho Tutelar de Porto Alegre, Marcelo Bernardi.

O conselheiro ressalta a precariedade na estrutura que oferece tratamento às vítimas depois que o abuso é revelado. Como a demanda é maior do que a oferta, os agendamentos são demorados.

— Hoje as coisas estão invertidas, a população está acessando o Conselho em primeiro lugar porque vai no serviço social e não encontra atendimento. 

É que após a avaliação no Crai, a vítima pode receber atendimento com a Equipe Especializada em Saúde da Criança e Adolescente (Eesca) e a família o acompanhamento social no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas). 

A continuidade do atendimento depende da necessidade de cada caso. O Conselho Tutelar e o Ministério Público são responsáveis por fiscalizar a prestação dos serviços e se as famílias estão cumprindo com as medidas. De acordo com a promotora Denise Villela, da 10ª promotoria de Justiça, uma das dificuldades é fazer com que a família continue o tratamento. 

— Em muitos casos, passamos a maior parte do tempo tentando localizar a família que se evade porque não quer ser encontrada. 
Denise Villela, promotora de Justiça Foto: Adriana Franciosi / Agencia RBS
Em situações extremas de negligência, a Justiça pode determinar o afastamento do agressor ou o acolhimento da criança por outro familiar ou até mesmo por um abrigo. 

Contraponto
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, embora o Crai seja a referência do Estado, existem outros 15 hospitais que também são referência em saúde para vítimas de violência sexual. Sobre a logística de transporte das vítimas de outras cidades até o Crai, a secretaria informou que a responsabilidade é do município. 

NÚMEROS DA VIOLÊNCIA

Delegacia de Polícia da Criança e do Adolescente (Deca)
Estupro: 
91 (2015)
15 (2016)

Crimes sexuais contra vulnerável: 
299 (2015) 
116 (2016)

Exploração sexual infantil: 
30 (2015) 
17 (2016)

Total: 
420 (2015) 
148 (2016) 


Centro de Referência no Atendimento Infanto-juvenil
/// Centro atende de 150 a 160 casos por mês de todo o Estado
/// 1/3 de atendimento pertence à Porto Alegre, outros 2/3 são de casos do interior
/// A cada 10 atendimentos, 8 a 9 ocorrem dentro da família 
/// Em 90% dos casos, as vítimas tem entre 7 e 12 anos

"Justiça também precisa se adequar"
Para o desembargador da 7ª Câmara do Tribunal de Justiça José Antônio Daltoé Cezar que atuou durante 20 anos na Vara da Infância e Juventude, toda a rede, incluindo o Poder Judiciário, precisa se adequar para evitar que a vítima repita o depoimento. 
Um projeto de lei ainda fora do cardápio de votações na Câmara dos Deputados, prevê a organização da rede de tal forma que diminua a revitimização. 

— É preciso evitar que ela fale tantas vezes até para a produção antecipada de prova. Não só no depoimento judicial, mas todos (os profissionais envolvidos) devem se capacitar. A criança e o adolescente não podem ser ouvidos da forma tradicional, como o adulto. 
José Antônio Daltoé Cezar, desembargadorFoto: Mateus Bruxel / Agencia RBS

A corregedoria do Poder Judiciário está promovendo a captação de recursos das Varas de Execuções Criminais para ampliar a estrutura do Crai e incluir o atendimento de mulheres vítimas no mesmo espaço do Hospital Presidente Vargas, na Capital. O investimento está estimado em cerca de R$ 2 milhões.  

E OS PAIS DEVEM SABER?

O que caracteriza o abuso sexual? 
/// Qualquer ato com conotação sexual que envolva criança ou adolescente com alguém numa etapa de desenvolvimento diferente da dela. - Qualquer carícia, exposição inadequada, indução a toque ou masturbação. 
/// Expor a conteúdos pornográficos. 
/// Exploração sexual.

Quem é o principal agressor? 
/// A cada dez casos atendidos pelo Crai, 8 a 9 ocorreram dentro da família. 
/// Os agressores são, na maioria, do sexo masculino, na condição de pai, padrasto, tio, padrinho, avô ou irmão mais velho. 
/// Nestes casos, é preciso buscar ajuda fora de casa: na escola, no serviço de saúde, no Conselho Tutelar ou no Deca. 

Por que é difícil de revelar? 
/// É difícil para a criança entender que alguém que esta ali para protegê-la é alguém que lhe faz mal. 
/// O abusador mantém a vítima sob a sua confiança através de sedução, agrado, presentes ou ameaças. 
/// Quando uma criança revela o abuso, o relato precisa ser considerado. O abuso não faz parte da fantasia infantil.

Por que a vítima sente-se culpada? 
/// A primeira coisa que se ensina para uma criança é que ela pode conquistar o agrado do adulto através da sedução (sorriso, beijo, abraço). Quando ela torna-se vítima, o primeiro jogo complicado que se estabelece na mente dela é: "eu devo ter feito alguma coisa pra que isso tivesse acontecido, a culpa pode ser minha". 
/// O abusador joga com a culpa e costuma dizer que foi ela quem provocou a situação e o fez agir assim. 

É possível prevenir? 
/// É preciso ficar entendido que a sexualidade nasce com o individuo. O assunto tem que ser abordado com a criança desde sempre. Um exemplo é quando as criança tocam as partes íntimas e as mães se assustam. Em vez de assustar, os pais devem explicar que existem partes do corpo que dão prazer, mas que o corpo pertence a ela e que ela tem o direito de negar uma atitude evasiva de um adulto. 
/// A criança precisa entender o que é agressão e que ela não é obrigada a fazer aquilo que não tem vontade. 
/// É preciso estabelecer uma relação de confiança para que a criança consiga revelar uma situação de abuso. 

Como lidar com a violência sexual depois que ela acontece?
/// Acreditar no relato da vítima.
/// Procurar uma unidade de saúde. É possível que precise de um atendimento médico e apoio emocional, considerando que ela viveu uma experiência traumática. 
/// Comunicar o Conselho Tutelar e fazer um registro de ocorrência policial que pode ser no posto do Crai, na Delegacia da Criança e do Adolescente (Deca) ou numa delegacia mais próxima.
/// Existem tratamentos e acompanhamentos psicológicos que, apesar da vivência traumática, possibilitam que a pessoa siga em frente. O simples fato de a violência ser interrompida, pode ser um grande alívio.

Quais os sinais de que a violência pode estar ocorrendo?
/// Alteração brusca de comportamento
/// Reação diferente a um adulto conhecido
/// É fundamental levar a sério o relato de abuso, jamais deixar de acreditar. 

Quais as possíveis portas de entrada para pedir ajuda?
/// Conselho Tutelar
/// Delegacia de Polícia da Criança e do Adolescente (Deca)
/// Centro de Referência Especializado Infanto-juvenil (Crai)
/// Serviços de saúde, escolas e assistência social também devem estar preparados para fazer o encaminhamento
/// Ministério Público 
/// Denúncias anônimas podem ser feitas pelo 181 ou 100

Por que é preciso fazer a perícia em 72 horas quando há estupro?
/// Neste prazo, a perícia consegue encontrar vestígios biológicos do agressor. O laudo é fundamental para formalizar a denúncia.
/// Este também é o prazo para que os médicos possam ministrar remédios que evitem uma gestação e a contração de doenças sexualmente transmissíveis.

sábado, 4 de junho de 2016

Denatran prorroga prazo de habilitação para "cinquentinhas"

A exigência de habilitação para guiar motos “cinquentinha” e a multa para quem não tiver o documento só valerão a partir de 3 de novembro. A decisão, divulgada pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) altera o que o próprio Conselho Nacional de Trânsito (Contran) determinou, em março: que a obrigatoriedade começaria a ser cobrada a partir de 1º de junho. 
Essa é a terceira vez que o prazo é prorrogado. Tem estados, como Bahia, Pará e Paraíba, que a fiscalização já foi iniciada na quarta-feira e há relatos de multas por falta de habilitação. 
De acordo com o Denatran, o prazo foi prorrogado devido a uma alteração no Código de Trânsito Brasileiro, aprovado pela presidente Dilma Rousseff antes do seu afastamento. 
A legislação que inclui autorização para conduzir cinquentinhas e multa para os infratores só entrará em vigor daqui a 180 dias. E, portanto, não poderia vir definida por uma resolução do Contran.
Na interpretação do Denatran, ela torna ‘inócua’ a resolução que previa cobrança de habilitação a partir de 1º de junho. “A lei atropelou a deliberação (do Contran)”, disse Olavo de Andrade Lima, que foi indicado para a presidência do Denatran ontem.
A mudança no Código também reduz a chance de questionamentos sobre a exigência. “A inovação proporcionada pela Lei nº 13.281, de 2016, ao CTB permitirá que a fiscalização e o policiamento de trânsito sejam mais eficazes, uma vez que condutores até então poderiam alegar que não havia previsão legal para autuar aqueles que conduzirem tal veículo sem a Autorização para Conduzir Ciclomotor”, informou o Detran em nota.

Multa será mais cara

Também entrará em vigor o aumento do valor das multas. Assim, a penalidade por conduzir cinquentinhas sem habilitação passará de R$ 574,62 (valor que seria cobrado atualmente) para R$ 880,41.
Além disso, a infração prevê retenção do veículo. Agora é esperar até lá pra ver se não rolam mais novidades.
Fonte: A Tribuna