domingo, 8 de agosto de 2010

Mensagem do Velho ao Moço


Você já foi criança um dia, mas os seus anos se dobraram e fizeram de você, um jovem adulto, e agora você me olha com certo desprezo, só porque muitos 

anos se dobraram para mim e, hoje sou um velho. 

Você observa minhas mãos trêmulas e encarquilhadas e se esquece que foram elas que ajudaram a acariciar as suas, inseguras na infância. 

Critica os meus passos lentos e vacilantes, esquecendo-se de que foram eles que orientaram seus primeiros passos. 

Reclama quando lhe peço para ler uma palavra que meus olhos já não conseguem vislumbrar com precisão, esquecido das várias palavras que eu repeti inúmeras vezes para que você aprendesse a falar. 

Fala da lentidão das minhas decisões, esquecendo-se de que suas primeiras decisões foram por elas balizadas. 

Diz que eu sou um velho desatualizado e sem estudo, mas eu confesso que pensei muito pouco em mim, para fazer de você, um homem de bem. 

Reclama da minha saúde debilitada, mas creia, muito trabalho foi preciso para garantir a sua. 

Ri quando não pronuncio corretamente uma palavra, mas eu lhe afirmo que esqueci de mim mesmo, para que você pudesse cursar uma universidade. 

Diz que não possuo argumentos convincentes em nossos raros diálogos, todavia, muitas foram às vezes que advoguei em seu favor, nas situações difíceis em que se envolvia. 

Hoje você cresceu e é um homem robusto e a juventude lhe empolga as horas, esqueceu-se de sua infância, seus primeiros passos, suas primeiras palavras, seus primeiros sorrisos, mas acredite, tudo isso está bem vivo na memória deste velho cansado, em cujo peito ainda pulsa o coração amoroso de outrora. 

É verdade que o tempo passou, mas eu nem me dei conta, só notei naquele dia em que você me chamou de velho pela primeira vez e, eu olhei no espelho, lá estava um velho de cabelos brancos, vincos profundos na face e um certo ar de sabedoria, que na imagem de ontem não existia. 

Por isso eu lhe digo meu jovem, que o tempo é implacável, e um dia você também contemplará o espelho e perceberá que a imagem nele refletida não é mais a que hoje você admira, mas você sentirá que em seu peito, o coração ainda pulsa no mesmo compasso; que o afeto que você cultivou, não se desvaneceu; que as emoções vividas, ainda podem ser sentidas como nos velhos tempos; que as palavras amargas, ainda ferem com a mesma intensidade; e que, apesar dos longos invernos suportados, você ficou frio diante da indiferença 
dos seres que embalou na infância. 

Por isso que lhe aconselho meu filho, não ria nem blasfeme do estado em que estou, eu já fui o que você é, e você será o que hoje sou. 

Evangelho segundo S. Lucas 12,32-48.

Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino.» «Vendei os vossos bens e dai os de esmola. Arranjai bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável no Céu, onde o ladrão não chega e a traça não rói. Porque, onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.» «Estejam apertados os vossos cintos e acesas as vossas lâmpadas. Sede semelhantes aos homens que esperam o seu senhor ao voltar da boda, para lhe abrirem a porta quando ele chegar e bater. Felizes aqueles servos a quem o senhor, quando vier, encontrar vigilantes! Em verdade vos digo: Vai cingir-se, mandará que se ponham à mesa e há-de servi-los. E, se vier pela meia-noite ou de madrugada, e assim os encontrar, felizes serão eles. Ficai a sabê-lo bem: se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não teria deixado arrombar a sua casa. Estai preparados, vós também, porque o Filho do Homem chegará na hora em que menos pensais.» Pedro disse-lhe: «Senhor, é para nós que dizes essa parábola, ou é para todos igualmente?» O Senhor respondeu: «Quem será, pois, o administrador fiel e prudente a quem o senhor pôs à frente do seu pessoal para lhe dar, a seu tempo, a ração de trigo? Feliz o servo a quem o senhor, quando vier, encontrar procedendo assim. Em verdade vos digo que o porá à frente de todos os seus bens. Mas, se aquele administrador disser consigo mesmo: 'O meu senhor tarda em vir' e começar a espancar servos e servas, a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele servo chegará no dia em que ele menos espera e a uma hora que ele não sabe; então, pô-lo-á de parte, fazendo o partilhar da sorte dos infiéis. O servo que, conhecendo a vontade do seu senhor, não se preparou e não agiu conforme os seus desejos, será castigado com muitos açoites. Aquele, porém, que, sem a conhecer, fez coisas dignas de açoites, apenas receberá alguns. A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito será pedido.» 

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